quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Partida de Xadrez



Uma vez compreendida e assimilada as regras do jogo e as noções preliminares, podemos passar a estudar a parte prática do jogo, ou seja, a Partida de Xadrez. É ela um conjunto de jogadas ou lances, com um único objetivo para cada lado, qual seja o de dar xeque-mate no adversário.

A cada jogada segue-se uma resposta do adversário e, da repetição destes movimentos, resulta a partida de xadrez.

A jogada é a partida reduzida à expressão mínima e rudimentar.

Classificação das Jogadas
As jogadas classificam-se em:

a) Jogadas de ataque
Aquela que cria uma situação de perigo ao adversário.

b) Jogadas de defesa
Aquela que estabelece uma proteção para o lado que a realiza.

c) Jogadas neutras
É a jogada que, por exclusão, não é nem de ataque e nem de defesa. Estão incluídas nesta designação os lances para a colocação de peças no jogo, também chamados de lances de desenvolvimento.

d) Jogadas errôneas
Aquela que propicia ao adversário uma vantagem imediata, ou alguns lances após, ao adversário.

Relações entre Jogadas e Respostas
Podemos estabelecer as seguintes relações entre as jogadas e as respostas:

a) Jogada de Ataque
Resposta: defesa ou contra-ataque.

b) Jogada de Defesa
Resposta: ataque ou preparação de ataque.

c) Jogada Neutra
Resposta: ataque ou preparação de ataque.

d) Jogada Errônea
Resposta: aproveitamento do erro.

Esta classificação de jogadas e o quadro de suas relações com as respostas não devem ser considerados nem completos e, tampouco, perfeitos. Apresentam apenas interesse didático, com a finalidade de facilitar, tanto quanto possível, o estudo dos principiantes.

Como Conduzir uma Partida
Desde que o jogo de xadrez seja uma luta e, como tal exija a participação de elementos de combate, a primeira preocupação do enxadrista, ao iniciar uma partida, será tirar as peças de suas desfavoráveis casas iniciais, ampliando-lhes o raio de ação e, por conseqüência, a capacidade de luta de cada uma. A isso denominamos Desenvolvimento de Peças.

Outra preocupação inicial do jogador é que as peças sejam desenvolvidas tendo em vista as casas centrais do tabuleiro (conforme vimos na aula Conceitos de Desenvolvimento e Centro).

A importância do desenvolvimento das peças e das casas centrais são fatores que conduzem o enxadrista a uma posição vantajosa na abertura.

O Lance Próprio
Antes de realizar um lance, na abertura, o jogador deve responder, afirmativamente, às seguintes perguntas:

a) O lance atende ao desenvolvimento?
b) O lance tem ação no centro do tabuleiro?

Esses são os objetivos iniciais e devem ser sempre seguidos pelo iniciante.

Uma vez vencida a fase da abertura, a jogada para ser realizada, deve continuar a ter uma finalidade, quer seja de ordem estratégica, quer seja de ordem tática. Lances sem objetivo são inúteis, ocasionando perdas de tempo e mesmo a derrota.

O Lance do Adversário
O lance do adversário deve ser estudado cuidadosamente, procurando descobrir-lhe as intenções.

Antes de tudo é preciso pensar nas intenções do rival. Se não proceder desta maneira, há o risco de perda de material e até do xeque-mate imediato.


Graças ao procedimento simples e intuitivo de analisar os planos contrários, o jogador põe-se a salvo de surpresas desagradáveis.

RESUMINDO
Na realização de qualquer jogada, o jogador deve atender a duas perguntas fundamentais:
a) Qual a intenção do adversário com seu ultimo lance?
b) Qual finalidade tem a jogada que pretendo realizar?

Na fase da abertura do jogo, alem dessas perguntas o jogador deve atender, afirmativamente, a outras duas:
a) O lance atende ao desenvolvimento?
b) O lance tem ação no centro?

Conceitos da Abertura
O desenvolvimento da ABERTURA deve obedecer a quatro princípios básicos em duas etapas distintas:

a) ANTES DO ROQUE
    1) Controle do Centro do Tabuleiro: Dentro deste principio, convém jogar e2-e4 com as peças Brancas e e7-e5 com as peças Negras. Convém ao principiante iniciar a partida sempre com o Peão do Rei, pois conduz a partidas de mais fácil entendimento.
    2) Desenvolvimento de Cavalos e Bispos: Preferencialmente nesta ordem
    3) Preparação do ROQUE
    4º) Execução do ROQUE nos 10 primeiros lances

b) DEPOIS DO ROQUE
    1º) Controle do Centro do Tabuleiro
    2º) Desenvolvimento de peças
    3º) Abertura de linhas
    4º) Mobilidade e Harmonia entre as peças
É um erro comum no principiante iniciar ataques com o próprio Rei na coluna central do tabuleiro. O Rei fica exposto a contra-ataques e na maioria das vezes leva xeque-mate em poucos lances. Daí vem a importância de realizar o roque o quanto antes possível.

Observação sobre os princípios enunciados acima
É importante notar que o respeito a estes princípios permite ao principiante encontrar qual o melhor lance a executar entre vários a sua disposição.
Basta que prefira sempre o lance que atenda ao maior numero dos quatro princípios em cada etapa da abertura. Procedendo assim, dificilmente fará um lance ruim.

Para maiores esclarecimentos sobre o procedimento nas aberturas, citaremos a seguir os conceitos enunciados por autores já consagrados:

1º) No inicio do jogo não mover nenhum peão que não seja o PEÃO DO REI (e2-e4) ou o PEÃO DA DAMA (d2-d4). Exceto, é claro, nas aberturas da Ala da Dama quando se pode jogar c2-c4 antes de Cb1-c3.

2º) Na abertura, NÃO SE DEVE mover DUAS VEZES a mesma peça.

3º) Deve-se mover os Cavalos antes dos Bispos.

4º) NÃO CAPTURE o Cavalo do Rei do seu adversário ANTES QUE ELE TENHA FEITO O ROQUE.

5º) Sempre que possível, desenvolva uma peça que represente alguma ameaça para o adversário.

6º) Não movimente a sua Dama precocemente. Ou seja, antes de completar o desenvolvimento das peças menores: Cavalos e Bispos.

7º) Faça o ROQUE, preferencialmente o da Ala do Rei (Roque Pequeno), o mais rapidamente possível.

8º) Na abertura jogue sempre procurando obter o controle do CENTRO do tabuleiro.

9º) Esforce-se para manter sempre, ao menos um peão no CENTRO do tabuleiro.

10º) Não faça movimentos de peças que bloqueiem o desenvolvimento das próprias peças.

11º) Evite perdas de tempo. Por exemplo: muitos xeques durante a Abertura podem ser aparados pelo adversário com lances que favorecem o desenvolvimento das peças dele.

Aplicação dos Conceitos da Abertura


1. e4
Será este um bom lance na abertura? Vamos ver:

  a) Ao avançar o Peão para a casa “e4” duas diagonal são abertas: uma para a saída do Bispo do Rei e a outra para a Dama. Logo, este é um lance de desenvolvimento.

  b) Após o avanço, o Peão situa-se numa casa central e domina uma delas. Logo, é um lance de ação central.

A resposta afirmativa às duas perguntas sobre um lance de abertura (É um lance de desenvolvimento? É um lance de ação central) nos indica que este deve ser um lance indicado na abertura. Este lance não é de ataque nem de defesa, é considerado um lance neutro.

1... e5
As mesmas observações valem para as Negras.

2. Cf3


- É lance de desenvolvimentoObserve que o Cavalo, em sua casa inicial dominava três casas: e2, f3 e h3. Com este lance, ele passa a dominar oito casas: g1, e1, d2, d4, e5, g5, h2 e h4

- É lance de ação central: Das oito casas dominadas, duas delas são centrais (d4 e e5).

- É lance de ataque: Ameaça o Peão negro de e5.

- Melhor casa para o Cavalo: Observe que nas casas e2 ou h3 o seu raio de ação seria menor e no segundo caso, sequer teria ação central.

Agora as Negras tem um problema para resolver: como defender o Peão atacado?

Vamos analisar as possibilidades:

  a) 2 ... f7-f6
  Apesar de defender o Peão, este lance não é recomendável, pois priva o Cavalo do Rei de sua melhor casa, ou seja, onde ele dominaria oito casas, sendo duas delas centrais. Além disso, enfraqueceria um futuro roque pequeno, pois desestabilizaria a barreira de Peões do roque (abre a diagonal a2-g8 por onde poderia atuar o Bispo ou a Dama brancos). Sua ação central também não seria muito efetiva, pois apenas defenderia o Peão atacado. Após o avanço limitaria a possível saída da Dama negra via diagonal d8-h4.

Nota: Se as Negras realizarem este lance, uma possível linha seria: 2 ... f7-f6 3 Cf3xe5! f6xe5 4 Dd1-h5+ g7-g6 5 Dh5xe5+, seguido de 6 De5xh8, ganhando material.

  b) 2 ... d7-d6
  Defende o Peão, permite a saída do Bispo da Dama através da diagonal c8-h3, mas limita a ação do Bispo do Rei na diagonal f8-a3 e tem pouca ação central. Por isto não é considerada uma boa defesa

  c) 2 ... Dd8-e7
  Além de não exercer ação central efetiva, impede a saída do Bispo do Rei.

  d) 2 ... Dd8-f6
  A Dama se posiciona na melhor casa do Cavalo e se expõe, após o avanço do Peão da Dama branco, ao ataque do Bispo da casa “c1”. Sua ação central é muito pequena. Por estes motivos não é uma defesa recomendada.

  e) 2 ... Bf8-d6
  Bloqueia o avanço do Peão da Dama negro e conseqüentemente impede o desenvolvimento do Bispo da Dama negro.

  f) 2 ... Cb8-c6
  Defende o Peão do Rei atacado, exerce ação central (casas e5 e d4), é lance de desenvolvimento (amplia o raio de ação do Cavalo de 3 casas iniciais para 8 casas) e não impede a saída de nenhuma de suas peças.


Sem duvida alguma, a melhor opção de resposta para as negras neste momento é a opçãp f). Assim sendo as Negras seguem a partida jogando este lance:

2... Cc6

e as Brancas seguem a partida com:

3. Cc3
Em sua casa inicial este cavalo dominava apenas 3 casas (a3, c3, d2), com este lance passou a dominar 8 casas (b1, d1, e2, e4, d5, b5, a4, a2), logo é um lance de desenvolvimento. Das oito casas que passou a dominar, 2 delas são centrais: d5 e e4.

3... Cf6
As Negras optaram por este lance pelas mesmas razões apresentadas acima.
  A posição que se chegou neste momento é chamada de Abertura dos 4 Cavalos. Confira a posição no diagrama abaixo:


4. Bb5
Vejamos as vantagens deste lance:

  a) Em sua casa inicial este Bispo dominava as casas g2, e2, d3, c4, b5 e a6. Após se posicionar em b5, continuou dominando o mesmo número de casas da diagonal f1-a6 e passou a dominar as casas a4 e c6, ou seja, ampliou o seu raio de ação, caracterizando um lance de desenvolvimento.

  b) É um lance de ataque, pois ameaça o Cavalo negro de c6, que age no centro do tabuleiro e por este motivo, dizemos que o Bispo tem ação indireta no centro.
  Observe que já existe a ameaça branca Bxc6, deixando o Peão negro de e5 indefeso e atacado pelo Cavalo branco de f3.

  c) Torna possível o roque pequeno.

Observação:
Após a análise anterior, somos levados a pensar que as Negras devem defender o Peão do Rei, pois as Brancas ameaçam 5.Bxc6 seguido de 6.Cxe5.

Um lance que poderia passar pela cabeça ao invés do jogado na partida seria 4 ...d6, mas ele obstruiria a saída do Bispo do Rei, e não devemos posicionar as peças na abertura de maneira que impeçam o desenvolvimento das outras. Assim sendo as Negras jogaram:

4...Bb4
Com o lance do texto, as Negras optaram pela defesa pelo contra-ataque. Observe que as Negras passaram a atacar o Cavalo branco posicionado na casa “c3”, que também defende o seu Peão do Rei, que está atacado pelo Cavalo do Rei negro.

Se as Brancas seguirem a idéia de ganhar o peão, a partida seguiria assim: 5.Bxc6 (com idéia de ganhar o Peão do Rei negro), seguiria 5...dxc6 6.Cxe5 Bxc3 7.bxc3 Cxe4 e as Negras recuperam o Peão.

Portanto, ao jogar 4...Bb4 as Negras realizaram um lance de desenvolvimento, de defesa (pelo contra-ataque) e de ação central (indireta, pois ataca o Cavalo branco de c3 que tem ação no centro).

Com este lance, aprendemos um novo conceito: a defesa pelo contra-ataque.

5. 0–0
O ROQUE deve ser realizado por quem se inicia no xadrez o mais rápido possível, e de preferência, o roque pequeno. Por que?

O ROQUE coloca o Rei em segurança e coloca a Torre em jogo rapidamente. Veremos alguns casos em que se faz o roque grande com o objetivo de atacar pela ala do Rei quando as peças já estão instaladas naquele setor do tabuleiro e o Rei adversário fez o roque pequeno. A isto segue o avanço dos Peões desta ala (do Rei) apoiados pelas Torres na primeira horizontal.

Há ocasiões onde o "atraso" do roque é proposital para verificar qual dos roques o adversário fará para fazer a sua opção, mas de maneira geral, o melhor é rocar o mais cedo possível e de preferência o roque pequeno. 

5... 0–0
A luta começa a tomar forma. As Negras optam por fazer o ROQUE na mesma ala que as Brancas, o que começa a caracterizar uma luta no centro do tabuleiro. Se rocassem em lados opostos, ambos teriam o plano de avançar os Peões das alas contrárias aos seus respectivos roques para atacar o roque adversário.

6. d3
As Brancas defendem seu Peão central ao mesmo tempo em que abrem a diagonal para a saída de seu Bispo da Dama. É um lance de defesa e de desenvolvimento.

6... d6
Pelos mesmos motivos das Brancas.

7. Bg5


Em sua casa original (c1) o Bispo branco dominava somente as casas de sua diagonal aberta, agora age também sobre as casas h4 e f6 (onde se encontra o Cavalo adversário). Logo, este é um lance de desenvolvimento.

Observe que o Cavalo negro está “CRAVADO” (não deve mover-se, pois o Bispo capturaria a Dama). Concluímos então que também é um lance de ataque.

Em contrapartida, as Negras não temem 8.Bxf6, pois seguiriam com 8...Dxf6.

Mas a ameaça do primeiro jogador é outra: 8.Cd5!, atacando novamente o Cavalo do Rei negro, seguido de 9.Cxf6+ gxf6 (forçado) 10.Bh6 e as Brancas conseguem romper a barreira do roque negro, abrindo a coluna "g" para um ataque. Essa manobra somente é possível por causa do Cavalo negro cravado.

7... Bxc3
Levando em consideração a análise feita no lance anterior, as Negras percebem que é necessário trocar seu Bispo pelo Cavalo branco para evitar que ele se dirija à casa d5.

Se ao invés de capturar o Cavalo situado na casa “c3” as Negras jogassem: 7...h6 com o objetivo de combater a “CRAVADA do Cavalo”, seguiria 8.Bh4 g5 e a barreira de Peões do roque está enfraquecida.

Além disso, todo avanço de Peões deve ser muito bem pensado, visto que é a única peça que não retorna, portanto, a casa que ele deixa de vigiar após seu avanço não poderá mais ser defendida por ele.
Após este tipo de pressão dos Peões (7...h6 8.Bh4) geralmente o Bispo retrocede para a casa “g3”, mas neste caso específico há uma continuação interessante: 9.Cxg5! hxg5 10.Bxg5 Bxc3 (único movimento que evita 11.Cd5!) 11.bxc3 Dd7 12.Df3 Rg7 13.Dg3, seguido de f4.

8. b2xc3


As Brancas capturam o Bispo. Uma possível continuação para a partida após o lance 7...Bxc3 seria: 8...De7 9.Te1 Cd8 10.d4 Ce6 11.Bd2 c6 12.Bd3 Dc7 13.Db1 Td8 14.Db3 Bd7 15.Tb1 e o jogo está equilibrado.

Ensinamentos desta Mini-Partida

1º) Lance inicial recomendável: 1.e4 e sua melhor resposta 1...e5.

2º) Ataque direto à peça adversária: 2.Cf3, atacando o Peão da casa “e5”

3º) Defesa direta de peça atacada: 2...Cc6, protegendo o Peão do Rei atacado pelo Cavalo no lance anterior. Vimos também porque 2...Cc6 é a melhor defesa para o Peão atacado.

4º) Casas ideais para os Cavalos: Brancas: c3 e f3; Negras: c6 e f6. Veja o segundo e terceiro lances de cada um dos lados.

5º) Casas eficientes para os Bispos quando os Cavalos inimigos estão em c6 e f6: Respectivamente as casas b5 e g5, pois não há o problema do avanço do Peão à c6 (ou f6) expulsando o Bispo. Vide os lances: 4.Bb5 Bb4 e o lance 7.Bg5

6º) Ataque indireto à peça inimiga: O lance 4.Bb5 é um exemplo disto, pois ameaçava 5.Bxc6, eliminando a defesa do Peão do Rei negro, para seguir com sua captura pelo Cavalo.

7º) Defesa indireta da peça atacada ou defesa pelo contra-ataque: Veja a análise do lance 4 ...Bb4.

8º) Lances de desenvolvimento e ação central: Os quatro primeiros lances de cada lado e o lance 7.Bg5.

9º) Razões para fazer o ROQUE o mais cedo possível

10º) Troca de peças para anular o plano inimigo: Um exemplo foi o lance 7...Bxc3, com o objetivo de evitar 8.Cd5! que seria desastroso para as Negras, pois enfraqueceria seu roque.